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A EDUCAÇÃO BILÍNGUE PREJUDICA A ALFABETIZAÇÃO?

A EDUCAÇÃO BILÍNGUE PREJUDICA A ALFABETIZAÇÃO?

A percepção de que a educação bilíngue português-inglês pode prejudicar a alfabetização na língua materna ainda persiste, o que está associado com a crença de que o contato precedente com uma segunda língua pode gerar confusão e, assim, atraso na alfabetização. Entretanto, estudos científicos indicam que crianças expostas a duas línguas desenvolvem habilidades cognitivas aprimoradas, como maior flexibilidade mental e consciência metalinguística, o que pode beneficiar a aprendizagem (Megale; Liberali, 2016). A capacidade de alternar entre dois idiomas estimula o sistema cognitivo, uma vez que gerencia e armazena as informações em ambas as línguas, fortalecendo, desse modo, as conexões neurais.

Por conseguinte, Lorandi (2021) aponta que a alfabetização bilíngue, quando bem estruturada, não compromete o aprendizado da língua materna, mas sim potencializa a capacidade de leitura e escrita em ambas, pois ambas as línguas compartilham o mesmo sistema alfabético, o que favorece a aprendizagem simultânea, isto é, os alunos identificam padrões comuns entre as línguas e utilizem os conhecimentos de uma para facilitar o entendimento da outra. À vista disso, esse processo contribui para o desenvolvimento de estratégias metacognitivas, como transferir os conhecimentos de leitura e escrita entre os idiomas, tornando o processo de alfabetização mais integrado. 

Além disso, Marcelino (2019) destaca que a efetivação da alfabetização em um contexto bilíngue depende da abordagem pedagógica adotada. Estratégias que valorizam o letramento em ambas as línguas, respeitando o repertório linguístico dos alunos, promovendo um aprendizado mais significativo. Uma abordagem que se destaca na educação bilíngue é a Aprendizagem Integrada de Conteúdo e Língua (Content and Language Integrated Learning - CLIL), na qual ocorre o ensino de conteúdos com instrução na segunda língua, integrando a matéria com o conhecimento linguístico.

Em suma, conclui-se que a educação bilíngue pode potencializar o desenvolvimento cognitivo e linguístico dos alunos, sendo favorável para o processo de alfabetização. Evidências científicas demonstram que a exposição a duas línguas favorece a consciência metalinguística, fortalece as conexões neurais e possibilita a transferência de conhecimentos entre os idiomas. Por fim, a integração entre o ensino de conteúdos e a instrução em uma segunda língua, como ocorre no modelo CLIL, reforça a ideia de que a alfabetização bilíngue é um processo dinâmico e vantajoso, desde que respeite o repertório dos alunos e adote abordagens pedagógicas adequadas.

 

Referências

 

LORANDI, A. A consciência fonológica em línguas materna e adicional. In: Educação bilíngue : como fazer? / organização Antonieta Megale; prefácio Claudia Hilsdorf. – São Paulo : Fundação Santillana, 2021.

 

MARCELINO, M. O desenvolvimento linguístico de crianças bilíngues. In: Educação bilíngue no Brasil / organização Antonieta Megale; prefácio Ofelia García. – São Paulo: Fundação Santillana, 2019.

 

MEGALE, Antonieta; LIBERALI, Fernanda. Caminhos da educação bilíngue no Brasil: perspectivas da linguística aplicada. Raído, v. 10, n. 23, p. 9-24, 2016.

 

Matéria produzida pela Professora Bilíngue, Letícia Roque da Silva.